quinta-feira, 31 de maio de 2012

Templo de Lótus // Fariborz Sahba





Retirada do website do próprio templo, achei esta explicação especialmente interessante no que toca ao poder do simbolismo na identificação de religiões e o significado de exclusão que podem ter para algumas pessoas.

It is possible to see in the architecture of India, to an extent probably unknown elsewhere, the roots of religion in a most clear and distinct manner. The meaningful and powerful symbols which can be seen in the buildings and in their ornamentation, and even in the settings in which they have been placed, draw their inspiration from the religious convictions of the people, convictions which form an integral part of the Indian way of life. The very bushes growing in the corner of a temple courtyard or the color of the courtyard wall can tell us to which religion the temple belongs. In this way we can discover the allegorical meanings which the forms, the colours, and the statues in a temple are meant to convey, to such an extent that we can call Indian architecture an architecture of allegory and symbol, in that hidden meanings dwell in every shape and form. These hidden meanings have a close and inspiring connection with the life of the people of this country.

Against such a background, we find ourselves faced with two major questions regarding the design of a Bahá'í House of Worship for India. We understand from some of the statements of Shoghi Effendi, the Guardian of the Bahá'í Faith, that the Bahá'í Temple should be a symbol manifesting the Bahá'í Faith, revealing the simplicity, clarity, and freshness of this new Revelation. On the other hand, in showing respect for the basic beliefs of the religions of the past, the Temple must act as a constant reminder to the followers of each faith that all the religions of God are one, and that the Bahá'í Faith, for all that it may have many new features, is in no way cut off or detached from the life of the Indian people, but rather looks upon them all with respect and love.

Basing our research on the above sentiments, and seeking at all times to discover a common strand running through the symbolism of the many religions and sects to be found today in India, we undertook a study in the hope that we could prepare a design which, while it would in no way imitate any of the existing architectural schools of India, would be familiar to the Indian people, in the same way that when one speaks to them of the teachings and principles of the Bahá'í Faith they sense that here is a vision become reality, a dream fulfilled, albeit expressed in words that are new and even unheard of. [1]

O bom design é invisível.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -http://www.archdaily.com/158522/ad-classics-lotus-temple-fariborz-sahba/
[1] http://www.bahaihouseofworship.in/jewel-in-the-lotus

Cultura + Forma = Significado

In order to avoid ideological pitfalls we must then pose the pertinent question of form (...) [1]

A forma é poderosa como meio de comunicação no mundo religioso. Nesse contexto, funciona como um símbolo, capaz de sintetizar culturas inteiras. A forma aos olhos do conhecedor permite-lhe identificar a época, a nacionalidade, a história ou o culto. Atrás dela se esconde um conto que remota a um período indefinido no passado, há uma razão de ser. A forma não é simplesmente uma forma. Não é tomada assim, e por isso é um assunto de extrema delicadeza.

Contudo, o facto de às vezes lhe ser conferida "demasiada" importância faz com que muitos arquitectos se aproveitem delas para dar o toque de "identidade cultural" aos seus projectos, uma espécie de via fácil, permitindo-lhes basicamente fazer qualquer coisa desde que depois a "baptizem" com esses elementos chave. Isto veio a ser criticado por muitos, chamando-lhe o filósofo Edward Said "a representação do outro pela sua ‘outridade’", uma forma de discriminação pós-colonial, isto é, a tradução de uma civilização fora do seu contexto através de um elemento considerado paradigma dessa mesma, assim, não é a imagem de um povo que dita a forma, mas a forma que compreende a imagem que temos desse mesmo, um estereótipo. É o que acontece com, por exemplo, as mesquitas construídas no Ocidente, que mantêm a cada novo projecto a sua cúpula e minarete, considerados motivos indissociáveis do povo em questão.

(...) the minaret, together with the dome, has become a structural metonym of Muslim identity that can no longer be read in any other context than the one it predetermines, even though there exist in the Muslim countries both old and new mosques without minarets and domes. 

This overloaded process promoted Islam or Muslimhood in the West as if it were a nationality, with one culture, one language, one identity, one form, and so on. In this abstract and uncritical semiotic operation both the signifier—form—and the signified—identity—are essentially either reduced to empty shells, or on the contrary hardened into ideological 'mythemes' (...) [2] 

Os minaretes em particular são vistos como pertencentes à civilização muçulmana e esta é assim associada a um pobre repertório de formas numa atitude discriminatória disfarçada de cosmopolitismo. Houve até casos extremos em que se optou por construir o minarete em primeiro lugar, ficando assim uma construção incompleta, mas supostamente com "a forma que detinha mais importância". Foi preferível neste caso representar um símbolo em vez de começar por criar um espaço de comunhão. O lado espiritual parece ter sido deixado de lado em detrimento da construção de um monumento ou ícone.

(...) it is clear that most contemporary mosques no longer involve the makings of "a place of worship and collective social activities," but rather (...) they are in the service of "a monument" symbolizing power as culture. 

 (...) modernist architects assimilated the colonial ideology of difference wholeheartedly into their movement by endowing pure abstract forms with the notions of authority and authenticity (Celik 1992, 58-77). Thus, instead of discouraging any attempt at reducing an aesthetic artifact (such as a mosque) to one of its features (such as a minaret) which pushes the association chain all the way to the collective identity (Muslim) that such an artifact is supposed to hypostatize, they have instead endorsed it. [3]

A ideia de que a globalização deu origem a uma hibridização de várias culturas parece ser apelativa, contudo as minorias em terras estrangeiras continuam a ter o seu espaço exclusivo, tornando-as não parte do todo mas sim um núcleo restrito, rodeado de simbolismo que se torna numa barreira enunciadora da propriedade do "outro". Em vez de haver uma tentativa de homogenizar a sua presença, esta é mais assumida, contribuindo para o seu isolamento dentro da sociedade.

Muslims in Europe were usually perceived as transient immigrants, refugees, or negligible ethnic minorities, rather than as part of communities deserving their own places of worship or cultural institutions. [4]

Outro dos problemas com os templos muçulmanos no Ocidente é o facto de, apesar do financiamento vir dos próprios países que estão a ser representados, o arquitecto é na maioria das vezes local, ou seja, alguém que não está dentro da cultura e que vai buscar a sua inspiração não ao original mas ao precendente: trabalhos semelhantes já realizados na sua terra natal, que reproduzem os mesmos erros e estereotipías vezes sem conta, deste modo, nunca há nenhuma evolução e a imagem mantém-se sempre constante e desactualizada.

A construção de um templo "alienígena" dentro de uma civilização com ideologias diferentes parece demonstrar uma atitude positiva de aceitação, mas quando reparamos que não são feitos esforços de compreender e tentar assimilar essa mesma cultura e ela continua a ser considerada como forasteira e segregada pelos habitantes locais os verdadeiros objectivos desta obra de "bondade" são postos em causa.

Não há nenhuma tentativa para fomentar um contacto mais próximo e menos superficial entre as diferentes culturas que habitam uma zona continuando estas a ser ignoradas pela maioria da população. Esta é uma oportunidade de tentar esbater barreiras sociais, algo que devia ser prioridade no código ético de diversas profissões, entre elas o Design e a Arquitectura, pensar um espaço colectivo para ser mais do que isso.

O Alto-Comissário considerou Portugal como "o país mais tolerante da Europa". No entanto, "os portugueses deviam conhecer melhor outras religiões, pela afirmação da diversidade. Seria útil para a comunidade portuguesa conhecer outros credos", sublinhou. Para que tal aconteça, Rui Marques referiu a importância da "educação intercultural nas escolas" e da "sensibilização através dos media", salientando igualmente o "diálogo entre as diferentes religiões que coexistem em Portugal". [5]

Em Lisboa aquilo que acontece não é uma atitude de intolerância mas sim uma ignorância e falta de interesse, estas entidades tem os seus próprios núcleos de actividades e espaços de lazer que proporcionam eventos interessantes para a maioria, para além de agora constituírem obrigatoriamente uma parte da nossa cidade, e por isso é importante que tomemos contacto com eles, não faz sentido passar ao lado desse território, ele é de todos.

One of the virtues of the Saidian turn is to contextualize "otherness" not as a cultural dead-end, burdened by an over-determining sense of identity, but as an opportunity to participate in an open-ended becoming. [6]

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
[1] AVCIOGLU, Nebahat - Identity-as-Form: The Mosque in the West, The University of California, 2007.
[2] Idem
[3] Idem
[4] Idem
[5]  
http://www.jn.pt/paginainicial/interior.aspx?content_id=522697
[6] Idem

Reading Between the Lines // Pieterjan Gijs and Arnout Van Vaerenbergh







A Reading Between the Lines, na Bélgica, é um exemplo interessante de como um local se consegue camuflar completamente no seu ambiente. É feita a partir de um jogo de sobreposição de camadas de aço, uma material que à partida nada tem de orgânico mas que consegue adquirir essa propriedade graças ao uso do intelecto humano, o que nos faz acreditar que mesmo com os materiais mais rudes se pode estar em sintonia com o ambiente e fazer estruturas formalmente agradáveis.

A Igreja Invisível, como é também chamada, tira completo partido da iluminação natural, aliás, vive disso. Apesar de ter algum simbolismo associado à religião cristã acabou por se tornar num espaço bastante neutro pelo seu diálogo com a Natureza.

Este projecto faz parte de um projecto maior que consiste em trazer arte urbana para espaços públicos, assim sendo não é apenas um trabalho arquitectónico como também escultórico. A iniciativa chama-se Pit e vem da Z33, uma casa de arte contemporânea belga. Esta obra procura atrair vários tipos de público, não só os que se identificam com a doutrina, a um espaço que deixou de ser frequentado, chamando a atenção para o que está a acontecer com várias igrejas na Europa, que acabam abandonadas.

Pit is an organic project of Z33 that unfolds since June 2011 in the region of Haspengouw. Also in 2012 the project is still evolving. Some of the works remain in place for a longer period, others can be seen for only a short time. Besides the artworks that are placed in the open space, there are also workshops, side activities and public events.

Midden-Haspengouw is a typical culture landscape, designed to its own needs by human hands. Pit zooms in on three recurring themes in the region. 

First of all on the religious heritage. In and around Borgloon you find a lot of small parish churches. These churches are, however, often empty, as a result of the declining church visits. The future of the empty churches is a current problem anticipated by some artists in Pit. Other artists focus on the agro-economic landscape of Midden-Haspengouw. The changing economic situation in the area leads to commuters and sleeping towns, but also to new forms of residential tourism. 

Pit finally finds its inspiration in the culture-historical heritage of the region. In the area of Borgloon you can find for example the Roman Road (Romeinse Kassei) and the Fruit track (Fruitspoor). These tracks provide a good accessibility and interesting cycling and biking routes. Moreover, they display the historical value of the region. [1]

E para mais informação sobre arte em espaços públicos, um dos meus colegas está a debruçar-se sobre o assunto neste momento no seu blog Living in a Gallery.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
http://www.photographyserved.com/gallery/Gijs-Van-Vaerenbergh-Reading-Between-The-Lines-(Z33)/2119156
[1] http://www.z33.be/en/about-pit

quarta-feira, 30 de maio de 2012

\ \\ Ícones // /

Remeto a um dos parágrafos que citei anteriormente: a opinião de Tibor Kalman de que a palavra "cool" estava a substituir a palavra "conteúdo"[1]. Que quer isto dizer no contexto da arquitectura? Quando vemos edifícios que se manifestam por serem bastante diferentes dos que estamos habituados a ver, o que estão eles a querer comunicar? Terão uma razão perfeitamente justificável no que concerne à forma que decidiram tomar ou é este apenas um "Look at me!", o querer tornar-se ícone, marcando pela diferença aliando-se ao factor "cool" e ignorando todos os outros aspectos.

I am suspicious of architecture which makes pompous claims for itself. I think a design that sets out with the conscious intention of being Iconic is unworthy. And, I think a pre-requisite of a good design is one which contributes to its context. [2]

Há bons ícones e maus ícones, para que um ícone seja válido precisa de contribuir para o contexto urbano. A ausência de ícones pode tornar uma cidade "enfadonha" e sem pontos de interesse, mas demasiados ícones confundem-nos e já não sabemos a qual devemos dar a devida apreciação. Graham Morrison descreve a criação de um ícone através da analogia das provas de mergulho, cada participante tem pontos conforme a dificuldade do seu salto, e deve entrar na água de forma graciosa e com o mínimo "splash" possível, mas para muitos designers e arquitectos, entrar na água sem espirrar água para todos os lados não faz parte dos seus planos.

Descriptions of the dives like ‘A flying forward double somersault with twist’ bring the images of several recent buildings to mind. Add a ‘reverse take off with jack-knife’ and you will have a spectacle that will simultaneously confuse the critics, impress the students, and momentarily delights the public. [3]

A Igreja Caravela pretende sem dúvida ser um salto com este tipo de nome, confundindo toda a gente que passa ao mesmo tempo que os faz parar e contemplar o edifício por nunca terem visto algo semelhante.

Morrison propõe uma série de questões que devemos pôr para criar uma opinião perante edifícios deste tipo:

1. Dentro da ordem e equilibrio da cidade, será de valor representar uma certa coisa como ícone?
2. Porque é que tem este aspecto?
3. Estará a esforçar-se demais?
4. Que contribuição tem este ícone para o seu contexto [4]

Põe-se também a questão se não estará a acontecer algum tipo de "efeito Gaudi". Edifício que geram muita polémica negativa nos primeiros tempos em que são construídos mas que depois são aceites até se tornarem eventualmente num motivo de orgulho. Estará esta igreja apenas fora do seu tempo?

Although we live in a secular age, we still need familiar and reassuring reference points. With traditional Icons, such as temples or churches, no longer holding the same significance, we need to replace them with new forms which confirm the change in our values, continue to make our evolving cities more legible, and to give us pleasure.

Vivemos numa era secular mas que ainda não perdeu a sua espiritualidade. Não é necessário ser-se religioso para se apreciar uma igreja ou para se retirar prazer do silêncio e da actividade meditativa, muitos não se identificam com a doutrina mas continuam a querer participar nestes rituais à sua maneira, e esses rituais têm de facto algo para dar [5]. As igrejas modernas têm também de pensar nestas pessoas e como as poderão cativar, de um certo modo, porque dependem delas para a sua continuação e não perderem a sua função por completo. Isto é retratado pelas (cada vez mais) igrejas abandonadas pela ausência de frequentadores, como a Reading Between the Lines, reaproveitada mais tarde através desta iniciativa. Neste intuito uma certa alteração formal dá um carácter mais neutro e apelativo às estruturas, conferindo-lhes um estatuto de ícone que mergulha suavemente sem qualquer salpico, chamando pessoas a uma zona esquecida. Estes são os bons ícones.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
[1] KALMAN, Tibor - Social Responsability (Entrevista por Steven Heller), 1998.
[2] 
MORRISON, Graham - The Trouble With Icons, Speech to the AJ/Bovis "Awards for Architecture" dinner, 2004.
[3] Idem
[4] Idem
[5] BOTTON, Alain de - Atheism 2.0

Igreja da Boa Nova // Roseta Vaz Monteiro Arquitectos








A Igreja da Boa Nova foi construída no bairro "Fim do Mundo", bairro esse que está a ser tratado mais aprofundadamente no blog O Gueto de uma colega minha, ao qual podem e devem aceder para mais informação sobre o assunto.

O projecto foi feito em conjunto com a comunidade local e acabou também por ser nomeado em 2011 como um dos 5 finalistas para o prémio de melhor edifício religioso da ArchDaily, juntamente com mais dois projectos portugueses.

O objectivo do edifício era criar uma nova identidade para aquele local de conotação tão negativa (começando pelo seu nome). O bairro "Fim do Mundo" é agora conhecido como bairro da Senhora da Boa Nova, sendo este espaço uma espécie de ponto de união e reunião entre as diferentes camadas sociais que habitam o local. Com várias actividades e até uma escola primária agregada.

We believe designing sacred space should revolve around the ability to state the supremacy of the Void. Throughout the project’s development, the key conceptual elements were two empty spaces: the courtyard, a place where the community could meet; and the nave, a sacred space presenting that which could not be presented. We wished the nave to be an introspective, infinite, and irrepresentable space.

Today, the church stands within an elliptical plan, providing a dynamic sense of scale, and covered by an interior dome, eliminating the wall/ceiling division and spatial references within. The windows are deep, bringing indirect natural lighting into the nave and distancing the suburban surroundings, and the exterior walls curve to present an anthropomorphic object holding within the ilimited, infinite, and irrepresentable Void.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
http://www.archdaily.com/121074/boa-nova-church-roseta-vaz-monteiro-arquitectos/

Capela de Santa Ana // e|348 Arquitectura







Construída em Santa Maria da Feira, esta pequena e modesta capela tira o proveito da luminosidade exterior através de várias pequenas janelas rectangulares que de noite têm o efeito inverso, projectando a luz do interior do edifício para o exterior.

Uma das principais condicionantes para o seu formato em forma de L e pequena dimensão foi o terreno em que se situava, um projecto bem desenvolvido, moderno e despretensioso, que cumpre a sua função e se insere pacificamente no contexto rural em que foi construído, o que lhe permitiu também ser nomeado para o prémio da ArchDaily de 2011.

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
http://www.archdaily.com/118854/santa-ana’s-chapel-e348-arquitectura/

terça-feira, 29 de maio de 2012

Forma // Antes e Depois

 Le Corbusier before him who declared: "Our own epoch is determining, day by day, its own style." 

(...) It would have been completely foreign to a medieval or Renaissance church architect to talk this way. Not only because most of them believed they were expressing their Christian faith by means of their craft, but also because they saw themselves as part of an artistic tradition — one whose standards they had to live up to. Far from looking back on the past with scorn and disdain as something passé ("architecture," insisted Le Corbusier, "is stifled by custom"), medieval and Renaissance architects looked upon the tradition of which they were a part with a sense of both pride and humility as something to be emulated and imitated. [1]

Os tempos mudam, e com eles evolui também a Arquitectura marcando aquilo pode ser denominado como uma espécie de "estilo" da época reflectindo a estética e preocupações actuais mas ao mesmo tempo com a preocupação de se imiscuir o melhor possível no meio que a rodeia, que está frequentemente recheado de edifícios de outras alturas e de factores a ser tidos em conta. A transição tem então de ser suave e fazer algum sentido.

Tudo deve ter um propósito, mas há sempre os faux-pas desta profissão, pessoas com mais ego do que preocupações ambientais, sociais e éticas, preocupadas em construir ícones sem terem todo o trabalho crucial de pesquisa que envolve qualquer projecto.

Os espaços de culto, como a maioria dos edifícios, também necessitam de evoluir com o tempo. Mas este é um tipo de construção peculiar na medida em que se desconhece, na maior parte das vezes, as formas modernas que ele está a tomar, restando ainda a imagem antiga.

Depois de alguma observação pude constatar que muitas das igrejas que se considera terem feito correctamente essa transição do tradicional para o moderno assentam o seu aspecto em formas mais orgânicas e em princípios mais simples e genuínos: há pureza, há neutralidade, e não se perde nada, muito pelo contrário, muitos destes trabalhos são obras de engenho geniais que conseguem tirar proveito da Natureza de forma inteligente e minimamente económica.

A forma orgânica acaba por ser bastante representativa daquilo que se considera ser espiritual, a luz é um factor importante em muitos cultos, seja sob a forma de uma chama, da luminosidade parcial das lâmpadas colocadas em sítios estratégicos ou da incisão do Sol em aberturas e superfícies transparentes, proporcionando jogos de reflexos ou cores (vitrais).

Quando mais se assemelharem à Natureza (na medida do possível) mais relaxantes e aprazíveis nos parecem ser, é um pouco como a biomímica das emoções que nos são suscitadas pelo meio ambiente. A paz que sentimos no meio de uma floresta, a ver o pôr do sol ou perto da água é algo que cada vez mais nos falta no meio da cidade e que tentamos reproduzir através da criação destes espaços.

Neste sentido, a modernidade está também a trazer uma coisa interessante: formas menos simbólicas e restritas. A sumptuosidade que parecia dizer "isto pertence à religião cristã" torna-se de certa maneira mais convidativa, incitando não apenas à oração mas sim à instrospecção e à meditação, algo religiosamente neutro, qualquer um se pode identificar com estas acções como também não será ofensivo se se identificarem com uma forma que não grite uma identidade específica.

Ofensivo é, de facto, quando essas formas são ignoradas por completo a favor de uma estética individualista do próprio arquitecto, não reflectindo nada em concreto e deixando muitos religiosos desorientados e insatisfeitos por verem os seus locais de escape serem transformados, com auxilio das suas doações monetárias, num show off egoísta pela parte de quem pensou o projecto.

É este o caso da Igreja Caravela, que pretende ser marcante sem saber muito bem porquê, transformar-se num ícone descurando os seus frequentadores, desprezando os fins sociais de união e pertença, favorecendo em vez disso promessas de uma possível fama nacional e internacional e protagonismo para o seu autor. O grande problema aqui é estes serem valores contrários àqueles defendidos pela religião, como poderão as pessoas sentir-se confortáveis dentro de um mamarracho que se tenta vender aos olhos dos outros, não passando de um invólucro vazio para algo tão delicado?

With modernist "functionalism," however, we are often left with church buildings that make few, if any, references to the iconic heritage or architectural traditions of the Catholic Church. How exactly, then, are the common, working people of the parish supposed to recognize and understand their own building when it is not speaking their own language of form?

And for those elite few who do understand the "meaning" of the building, what can they say to the pious, hardworking churchgoers whose tithes have gone to pay for the building? That it was the goal of modernists to sweep away all the traditions of the past in order to make way for an architecture that would not only "represent," but in fact help to create, the new industrial, technological man of the future?

How would the non-elite, working-class Catholics for whom most of these churches are built reconcile all this — the elitism, the rejection of tradition and authority, the revision of values — with their faith in a Church based on centuries of tradition and authority? Was the new "technological man" of the modernist architects the sort of human person their Church was trying to inspire them to become? How, in other words, do you function in a building where the philosophy of the designers involves rejecting everything you hold dear? [2]

- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
[1] RANDALL, Smith - Don't Blame Vatican II: Modernism and Modern Catholic Church Architecture in Sacred Architecture, Issue 13, 2007.
[2]  
RANDALL, Smith - Don't Blame Vatican II: Modernism and Modern Catholic Church Architecture in Sacred Architecture, Issue 13, 2007.